Ao longo dos séculos a relação do homem com a natureza
tem sido exatamente a mesma relação que ele mantém com o FEMININO. E não falo aqui
só da questão de gênero (mulher) e sim da essência do feminino, presente em todos os seres humanos.
Uma essência
que é composta de características que norteiam valores e atitudes (sensibilidade,
cooperação, espirito de grupo, a cura, o cuidado, o saber intuitivo...).
Tais características não encontram mais espaço em um mundo que, segundo Ken Wilber* “está ligeiramente louco”.
A relação predatória que o homem moderno tem com a
natureza é exatamente a mesma que mantém com os valores ligados ao feminino. E
as consequências estão bem aí. Diante dos nossos olhos.
Mais do que a mulher em si são esses valores
(presentes nas mulheres e em muitos homens), que estão sendo esmagados pela
nossa civilização.
Na verdade, eles causam medo em um modelo
global de desenvolvimento (?) que privilegia o lucro e o “ter”. O modelo que vigora no mundo hoje é apoiado por atitudes altamente competitivas, e
por consequência predatórias, onde a palavra “sustentabilidade” virou piada nas
mãos dos marqueteiros de plantão, à
serviço do “deus mercado”.
Como cuidadora de almas e praticante do caminho
sagrado (baseado na sabedoria ancestral) tenho ao longo dos anos trabalhado com homens e mulheres, de diversas
etnias, religiões e orientações sexuais.
Essas pessoas (pelo menos a maioria delas) chegam até
o consultório, confusas, assustadas, frágeis, deprimidas, instáveis, desestimuladas,
sem criatividade. Incapazes de regular a própria marcha da vida. Sem
forças para colocar limites e demarcar seu próprio território.
Preocupam-se demais com a opinião alheia, entregam seu
poder e sua criatividade para “o outro” e vagam sem rumo em um território interior
árido. Citando aqui a analista junguiana
Pinkola
Estes*:
“... escolhendo
parceiros, empregos ou amizades que lhe esgotam a energia (...) envolvendo-se
exageradamente na domesticidade, no intelectualismo, no trabalho ou na inércia,
porque são lugares mais seguros para quem perdeu os próprios instintos.”
Tais sintomas denotam algo que é impossível ignorar: A
desconexão com a própria alma. A conexão só é possível através do contato
com o feminino sagrado interior. Ele é a essência da ANIMA. Contém e é contido
por ela.
Sem essa conexão os seres humanos (independente de gênero
ou orientação sexual) perdem o sentido de si, de pertencimento e de participação
na GRANDE TEIA DA VIDA*.
Ficam incapacitados de dançar a sagrada dança da vida.
Renunciam ao papel de Tecelão de Sonhos*.
Fico perplexa diante do fato de que os valores do
feminino são esmagados diariamente, (de forma individual e coletiva), e depois vem a “mea
culpa” onde a mídia oferece um “Dia Internacional da Mulher” tentando
soprar a ferida que queima há anos no Inconsciente Coletivo.
Sei também, que as mídias sociais vão ficar superlotadas
de posts babacas (e com um fundo misógino disfarçado) cheio de florezinhas e coraçõezinhos
e...?
Ofereço então aos leitores esse texto para reflexão.
Texto que inaugura simbolicamente o Blog “Oficina de Consciência”.
Aloha Mahalo (Gratidão e Bênçãos)
Visite nosso site e leia também “O ANIQUILAMENTO DO FEMININO PELA MÍDIA
NOTAS:
Ken Wilber - Um dos maiores filósofos e pensadores contemporâneos,
considerado o fundador do campo de Estudos Integrais, é uma das mais claras
mentes e mais inteligentes vozes da atualidade.
Pinkola Estes – Clarissa Pinkola Estés é uma intelectual e analista
junguiana de renome internacional. Foi agraciada com o primeiro prêmio Joseph
Campbell de “Keeper of the Lore” (Guardiã das Tradições). Ativista e escritora profundamente
envolvida em causas sociais. Foi nomeada para a Galeria de Honra das Mulheres do
Colorado, em 2006.
Teia da Vida – Os povos nativos de todas as etnias sempre acreditaram
na rede universal que contém e sustenta toda vida, A GRANDE TEIA DA VIDA. A
origem desse conceito é baseada na própria experiência e convívio com a
natureza.
Segundo a cultura nativa todos os elementos do meio ambiente estão
vivos e interconectados. Todos oriundos da mesma fonte espiritual: O GRANDE
MISTÉRIO. Pedras, plantas e animais
estão carregados de vida e devem receber o devido respeito para que seja
mantida a harmonia e o equilíbrio. Para
os xamãs (homens santos ou homens da medicina de todas as culturas nativas),
todas as formas de vida estão interligadas, e o equilíbrio mutuamente
sustentador entre elas é fundamental para a sobrevivência da humanidade.
Infelizmente o homem moderno não compreendeu ainda esse conceito.(Irene
Carmo Pimenta)
Tecelão de
Sonhos – Na filosofia
nativa viver é “dançar o sonho”. Para os Kahunas (Hawaii) o homem é o “tecelão
dos sonhos” . Aquele que tece os fios da vontade da alma na teia da vida. (Irene
Carmo Pimenta)
Sugiro ler este texto ouvindo Renaissance.Arrasou Irena.
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